domingo, 27 de maio de 2012

Reflexos.

Sabe o que eu odeio em você, Júlia?! Esse seu ranço de mulher submetida ao marido! Esse ranço Júlia, que não sai de você! Não, você não sabe de nada! Não sabe! Porque você teima em negar o teu prazer? Você se esconde por debaixo das cortinas do teu marido! Revela-te Júlia! Revela toda essa feminilidade que tá aí dentro de ti! Toda essa vontade de gozo! Para de negar o teu prazer Júlia!
Ah, Júlia! Porque reprimir toda essa vontade que eu sei que existe dentro de ti?! Sente meu peito. Olha como bate forte.
Você me usa como descanso dessa tua realidade idiota!
E eu ainda tinha a ilusão de que você sentia algo especial e diferente por mim, me derretendo toda a qualquer sinal, qualquer migalha de sentimento que recebia de ti...
Cansei disso Júlia! Cansei dos restos que recebo! Eu não sou uma pessoa a conta-gotas, não sei amar a conta-gotas; não sei sequer odiar a conta-gotas.
Eu odeio você Júlia.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ela não sabe.

Passou a semana toda muito feliz e satisfeita com a vida, com as pessoas e com ela mesma. Satisfeita. Era assim que se encontrava.
Mas assim como as vezes se está feliz por nada, ou pelo simples fato de constatar que está viva, agora ela também do nada, ou por algo que não sabe dizer o que é ao certo, sentia-se abatida, cansada e desorganizada mentalmente. Talvez fosse aquele quarto tão cheio de livros abertos e papéis por todos os cantos.
Sentia que nos últimos dias, estava amadurecendo em diversos aspectos, ela sentia isso claramente, resolvendo suas coisas e dando de conta de um pensamento recorrente: era uma adulta. Sim, e isso soava estranho aos seus ouvidos até um dia desses. Parece bobeira, mas não é. Quando somos crianças, e estamos crescendo, as pessoas nos veem e dizem aos nossos pais "nossa, como ele (a) está grande, como cresceu"... Mas quando somos adultos ninguém faz o favor de nos avisar, nós simplesmente estamos "grandes" e só agora a ficha dela conseguiu cair. É uma adulta.
Junto com esse ser adulta, vêm uma vontade enorme de ser afirmativa em suas coisas e com essa vontade, vem uma outra enorme de falar aquilo que sente. Um problema, quando vivemos em uma sociedade que fala uma coisa e faz outra. Surgiu muitas vezes uma vontade enorme de mandar alguém tomar naquele lugar e tomar conta de sua própria vida.
Aliás, essa é a sua maior vontade: tomar conta da sua própria vida. E essa vontade se resumiria muito bem em sair desse lugar, viajar pra um lugar que está em seus sonhos, mas ao menos por enquanto, distante de sua realidade. Meditar. Conhecer outro povo. Ela não se sente a vontade aonde está. Quer encontrar-se. E o que mais ela consegue se lembrar é daquele filme "Comer, rezar, amar"; nenhuma palavra conseguiria definir o que há dentro dela, senão esse filme. Ela se sente aquela personagem interpretada por Julia Roberts. 
Enquanto não consegue viver a vida que quer, a sua vida, vai vivendo a vida que lhe é imposta e não menos necessária, pois outro pensamento que tem é que tudo é no tempo Dele. Então resigna-se a aguentar e aceitar, é sua única saída. Afogada em meio as leituras que também contribuem para essa "falta de ar" que a sufoca mesmo que não tenha ninguém real apertando-lhe o pescoço. As leituras a fazem viajar, seja para dentro ou para fora, levam-na para qualquer outro lugar que ela talvez desejasse estar.
Respira fundo Ana, respira.

sábado, 28 de abril de 2012

Mariana.

Fora um dia de constantes respirações profundas e a vontade de falar com poucas pessoas, apesar do celular tocar insistentemente a chamado de diferentes figuras. Não desejava estar assim, apenas estava. As coisas para Mariana saiam do seu ritmo quando alguma perturbação em seu sistema imunológico resolvia lhe atacar e fazer com que tudo o que estava planejado e anotado em sua agenda simplesmente fosse por água abaixo.
Junto com as respirações, vinham-lhe os pensamentos de que tudo isso haveria de ter um propósito e que nada acontece a toa. Aquieta-se, mas logo os pensamentos perturbadores voltam a lhe tirar a paz e Mariana vê-se refém de si, coisa que não é nenhuma novidade para ela, mesmo assim, nunca se conforma com tal condição.
Resolveu assistir filmes interessantes, arrumar o guarda-roupas que afinal estava precisando ser organizado e até mesmo deu uma olhada na TV enquanto passava a novela, pensando que pelo menos assim conseguiria se distrair.
Sente a falta de algo sublime. Não que Ele não esteja dentro dela. Não é ausência que ela sente. É apenas a necessidade de algumas respostas que ela talvez nunca vá receber, mas mesmo assim, sente e acredita que é possível que mais cedo ou mais tarde elas irão chegar. Mariana tenta impor pensamentos a si, do tipo "deterministas", com frases de fé prontas, que prefere acreditar para acalmar seu coração. De certa forma, é o que consegue: acalmá-lo.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Por dentro.

Ana gostava daquela sensação de manter conversas, ser desejada por dois, três ou mais homens ao mesmo tempo; isso alimentava seu ego ao mesmo tempo que seu alter ego tentava lhe controlar dizendo que não, que ela deveria segurar o que havia entre as pernas e que melhor que dois pássaros voando, era um em sua mão. Mas, a vontade de Ana era ter dois, os dois de uma vez só, e ao mesmo tempo se possível, na mesma cama.
Os pensamentos não paravam por aí, seu desejo era tamanho que Ana chegou a imaginar os três, juntos, um comendo ao outro, de todas as maneiras possíveis, ao mesmo tempo.
Toda sua imaginação não tinha rumo se não a sua auto-excitação, sua vontade extremada de tê-los ali, naquele instante para satisfazer todas as suas vontades e pulsões sexuais. Gostaria de observá-los também.
Ana imaginava abrindo-se. Tudo o que pudesse abrir para que aqueles dois seres penetrassem não apenas em seu corpo, mas também em sua alma, e possuíssem seu espírito que já não lhe pertencia mais. Sentia as mãos, mãos que percorriam todo o seu corpo como uma água, suave e pesada ao mesmo tempo. Mãos firmes.
Achou melhor parar.Para de imaginar tudo aquilo, pois olhava para os lados e a única coisa que via era seus marcadores de páginas em seus livros, um copo com água e a cama ainda vazia.
Os desejos foram afastando-se, com grande relutância. Ana abriu o livro e continuou sua leitura. Dormiu. Quando deu por si, já era de manhã e o despertador tocava irritantemente.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Olhando pra trás.


Antes de dormir zilhões são os pensamentos que passam pela louca cabeça de Ana. Um muito engraçado que lhe veio recentemente a cabeça foi de quando ela tinha uns onze anos e que teve uma paixão platônica por um ator lindíssimo de um filme que ainda hoje é fã. Ao lembrar-se de tal situação sorri bestamente, chegando a achar-se ridícula por não somente ter se apaixonado por um "astro do cinema internacional" que sequer saberá da sua humilde existência algum dia, como também pelos dias em que acordava pensando e ia dormir chorando por causa de seu grande e impossível amor.
Prestes a pegar no sono, Ana rezava a Deus que atendesse seus pedidos de que um dia pudesse conhecê-lo pessoalmente ou que Deus tivesse piedade e arrancasse do seu peito aquele maldito sentimento. "Não sei se por coincidência ou milagre de Deus", pensava ela, o amor e junto com ele todo o sofrimento cessou e logo um amor de carne e osso surgiu na sua vida. Um garoto que a observava enquanto ela jogava vôlei no meio da rua com outras crianças... Mas esse é outro episódio que Ana prefere não se lembrar, com ele veio o primeiro beijo, em que Ana de tanta emoção quase desmaiou, tremeu-se todinha e saiu correndo sem sequer olhar para trás; todo o transtorno rendeu-lhe cinco dias dentro de casa, pois morria de medo de sair e dar de cara com o "beijoqueiro afoito" que foi logo lhe enfiando a maldita língua na boca. Pode até parecer engraçado e ela própria, quando olha pra trás ate esboça um sorriso, riria mais se não tivesse sido trágico e traumatizante seu primeiro e tão esperado beijo. Pena ter-se transformado em pesadelo.
Ana olha pro seu breve passado, mas percebe que já viveu coisas bem interessantes, capazes até de se fazer um livro "As peripécias de Ana", um titulozinho bastante cafona, diga-se de passagem, e poderia passar noites acordada se nada precisasse fazer na manhã seguinte, apenas se lembrando do seu passado praticamente presente.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Descobrindo-se Ana.

Parece até que Ana estava pressentindo que teria muito tempo ocioso para realizar a leitura daquele livro, tamanha sua ânsia de ir comprá-lo. Quando o amigo ligou para ela no dia anterior já a noitinha para lhe dizer quantas sensações aquela leitura o causara e trazendo o livro até ela no dia seguinte, ela já o desejara ler. Foi preciso apenas a leitura do primeiro e grande parágrafo para que ela se identificasse por completo com ele.
O livro fala de muitas coisas que Ana deseja ouvir e a leitura lhe provoca sensações semelhantes as do amigo, sensações quentes, das quais ela não consegue fugir, tornando-se mais forte que ela; quando se percebe seu corpo já está quente, vermelho e vivo; vivo como há tempos não se mostrava. Ela gosta da sensação e como gosta! A leitura, assim como outras que realizou não faz tanto tempo, se encaixa quase que completamente  no momento em que ela está vivendo.
Não fosse o sono que bate a sua porta de instante em instante, ela já teria devorado todas aquelas páginas vorazmente; mas quando se dá conta, o raciocínio e a assimilação lógica das palavras vai se fazendo rasteira e é obrigada a cochilar. por outros momentos, é inevitável que seus pensamentos não viagem para um certo lugar, um certo momento, um certo alguém... e aí as palavras vão sendo lidas, mas o que o cérebro vê são as lembranças e não a leitura presente. Tudo isso é mais forte que ela e junto com as lembranças é despertado em Ana as mesmas sensações do livro, o seu corpo quente, a boca seca, os fluidos não lhe poupam; Ana excita-se constantemente; o sono lhe salva. Enquanto dorme as sensações perturbadoras lhe dão um pouco de sossego.
Pensa em fazer testes. Testar as pessoas. Sumir-se, negar-se. Pedir disfarçadamente que ele venha até ela. Ele, pois ela ainda não pode chamá-lo de seu. Não que Ana não saiba que ninguém é de ninguém literalmente falando, ninguém é propriedade de ninguém, mas figuradamente ela gostaria que ele fosse seu, gostaria de sentir-se sua e ele dela e só, e de mais ninguém. Queria ter certeza disso.
Outra coisa de que Ana se satisfaz: ter a mínima certeza das coisas. Mas, vem se convencendo cada dia mais que se tem uma coisa mais incerta na vida é a própria vida. Para ela, a vida talvez devesse se chamar "incerteza": "Olá, tudo bem? Como vai sua incerteza?"; talvez tudo fizesse mais sentido... Mesmo sabendo disso, engana-se esperando certezas de algo.
Acredita que com um tipo de afastamento, com a ausência, causará a falta e consequentemente a saudade em alguém; o alguém que ainda não pode chamar de seu, mas gostaria de chamar, não por amor ou paixonite aguda. Não. Sabe-se bem que ela não está a-pai-xo-na-da; porém, sente-se alguma coisa diferente dentro de si, entusiasmos talvez, ou mesmo tesão, porque não admiti-lo? Um sinal piscando, dizendo a ela que talvez ela queira realmente viver algo com um alguém e que também, até que não seria má ideia apaixonar-se por aqueles olhinhos que a observam tão bobamente.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nem tão de luxo assim.


Olhei os textos de um dever de casa do meu irmão mais novo sem nenhum tipo de maior pretensão, a não ser o de simplesmente saber o que as escolas ensinam aos meninos de hoje.
O texto, parece até brincadeira, falava de uma boneca que era disputada por duas meninas, a boneca foi puxada de um lado para o outro e no fim, ficou despedaçada e trocada por outros brinquedos que continuavam inteiros, perfeitos.
É tarde agora, mas me lembro do texto e o que me vêm é a impressão de ter certa semelhança com essa boneca. Hoje me sinto assim, jogada, puxada de um lado ao outro, sem poder ter uma decisão própria, como se a vida me fosse fictícia, e talvez sequer me pertencesse.
Porque?
Não sei. Apenas sinto. 
Talvez nem devesse sentir, pois me lembrando de Platão, os sentidos nos enganam e tudo não passa de uma grande ilusão. Vã filosofia, essa que quase nada me ensinou, além de fazer perder-se o tempo, esvaiu-se no esquecimento, que agora só me resta dela a melancolia, de uma noite em que eu já deveria estar dormindo e estou aqui a falar coisas com coisas de bonecas e filosofia para que ninguém leia, apenas eu; o que já é de grande valia, pois o que me adianta sentir tudo isso aqui e não ter ao menos o direito de pôr para fora?
Já que o direito da tomada de decisão, esse o mais importante, me é tomado ás mãos?!